Cresci escutando Luiz de Carvalho, meu pai adorava ouvir as suas músicas, ele ainda possui uma enorme coleção de vinis do Luiz, são guardados como um velho tesouro, algo de valor imensurável, e consequentemente lá em casa todos nós aprendemos a gostar. Quando criança eu e meus irmãos escutávamos
aquelas belas canções em uma vitrola velha, naquela época ela era nova, me
lembro que sua cor era laranja, seu formato meio quadrado, simples como são as vitrolas e ao mesmo tempo delicada,
acho até que minha mãe ainda guarda essa
relíquia em algum canto da casa, as vezes quando rodava o disco a agulha pulava
a música, outras vezes desligava sozinha; por muitas vezes fomos repreendidos
pelo meu pai para não liga-la, para tomarmos cuidado, sem dizer dos vinis que
eram sensíveis e arranhavam com facilidade, bons tempos aqueles, família reunida escutando belas canções, sentávamos no tapete da sala e espalhávamos os vinis pelo chão escolhendo alguns, abrindo outros e a música ao fundo, tempo que não volta mais.
Tivemos o privilégio de receber o Luiz de Carvalho conosco
na 7º Igreja Presbiteriana em dois aniversários da UPH, isso há muito tempo
atrás, meu pai nessa época era presidente da sociedade e com certeza realizou
um sonho pessoal e de muitos outros que admiravam esse belíssimo cantor. Eu era
pequeno, mas me recordo daquele homem baixinho, que na capa do vinil
parecia enorme. Ele tinha um olhar forte, uma voz de deixar todos
boquiabertos, cantava com a alma e quando subia na frente da igreja até as
crianças paravam para escutar aquela voz. A igreja estava cheia, meu pai
orgulhoso, pois havia conseguido trazer Luiz de Carvalho na 7º Igreja, sim era
uma conquista, um presente de Deus, era um privilégio recebe-lo. Do banco eu escutava aquele homem
cantar as belas canções que só ouvia na vitrola, era uma sensação única, praticamente todos
sabiam as letras e sussurravam baixinho nos bancos, o vozeirão daquele pequeno
homem o tornava um gigante e a canção penetrava na alma como espada afiada, naqueles dias ouve conversão, ouve choro e muita alegria. Vou lembrar-me desse belo
cantor dessa forma, ele se foi na madrugada de ontem, levou com ele um pouco da
minha infância, um pouco do meu pai, da minha igreja, das músicas que aprendi a
gostar e que com orgulho ei de ensinar aos meus filhos.
Descanse em paz Luiz de Carvalho você cumpriu sua missão, falou de Cristo
com a voz, com a alma e com a vida. Que os anjos lhe recebam com maravilhosos
cânticos, assim como esses que você nos deixou, e irão permanecer abençoando
vidas até a volta do nosso Salvador.
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O cantor Luiz de Carvalho faleceu na última terça-feira, 17 de novembro, aos 90 anos, na cidade de São Bernardo do Campo, em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), sofrido em 27 de outubro último.
Carvalho, que também era evangelista, foi um dos pioneiros da música cristã no Brasil, e marcou o início da modernização da música cristã ao introduzir o violão entre os instrumentos de culto em 1955, quando muitos pastores consideravam o instrumento de cordas “profano”. O cantor também foi o primeiro artista cristão a gravar um Long Play (LP) de 33 RPM (rotações por minuto), e o fundador da gravadora Bompastor.
A saúde de Luiz de Carvalho já vinha debilitada desde outubro de 2014, quando ele sofreu uma parada cardiorrespiratória. Em janeiro deste ano, já recuperado, o cantor gravou um vídeo ao lado da filha, Priscila, cantando a música “Em Fervente Oração”, tida como uma das composições clássicas da música cristã brasileira.
Ao longo dos últimos meses, a família de Luiz de Carvalho atualizou a página do cantor no Facebook, apresentando informações sobre seu estado de saúde, que se mantinha grave, mas estável.
No último domingo, 15 de novembro, a filha do cantor publicou uma foto em que ela, o pai e a mãe estavam de mãos dadas, e na legenda informou que estava feliz por saber que Luiz de Carvalho se mantinha consciente, apesar da dificuldade de falar e abrir os olhos. “
“Papai, mamãe e eu JUNTOS, na saúde ou na doença. Sempre olhando para Cristo, autor e consumador da nossa fé! Aquele que não nos desampara, que nunca falha […] Glórias a Deus nas alturas pelos irmãos que estão nos apoiando neste momento de dor. A decisão dos médicos é não realizar mais nenhum procedimento invasivo, pois isso apenas causará maior sofrimento. Mesmo sem abrir os olhos e sem falar, nosso amado cantor sorri quando pedimos. ‘Pai, dá um sorriso para mim, eu estou aqui com você’. E ele sorri. Este é o meu maior presente. Ele sabe que estamos com ele, que não vamos deixá-lo”, escreveu Priscila.
Dois dias após essa publicação, Luiz de Carvalho terminou sua jornada. “Hoje, por volta das 4:30 da manhã os anjos do céu receberam nosso amado Luiz. Ele descansou. Foi cantar lá no céu. Depois de 90 anos aqui nesta terra, mais de 40 álbuns lançados, 2 DVDs e um livro, Deus o chamou. Sabemos que somos estrangeiros nesta terra. Não devemos esperar que Deus nos poupe do dia terrível e triste, mas jamais devemos duvidar de sua companhia quando esse dia chega. ‘Pois os olhos do Senhor estão atentos sobre toda a terra para fortalecer aqueles que lhe dedicam totalmente o coração’. 2 Crônicas 16:9”.
A filha de Luiz de Carvalho também destacou a importância que seu pai teve em sua própria decisão de seguir a Cristo, e que o testemunho de vida dele a inspirava: “Luiz foi um homem que deu sua vida pelas outras pessoas. São incontáveis os testemunhos que vemos e ouvimos de pessoas que foram aos pés de Cristo através dos louvores, testemunho e pregações de Luiz. 90 anos, dos quais sua maior parte dedicados a trabalhar por Jesus. Agradeço Deus todos os dias pela vida do meu pai. Ele me ensinou a ser tão apaixonada por Jesus como ele, viver para Jesus”
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