Minha história

  Nasci em uma família cristã, meus pais se conheceram, namoraram e pouco tempo depois se casaram na 7ºIgreja Presbiteriana de Belo Horizonte. Um dia conto aqui no Blog a história de toda minha família, mas hoje quero contar sobre a minha vida.

  Fui criado na igreja, cresci decorando Salmos, cantando no grupo infantil, lendo a Bíblia diariamente. Pedia a orientação de Deus para as mínimas coisas e se alguém perguntasse qual era a minha religião respondia orgulhoso: eu sou evangélico. Meus grandes amigos também eram da igreja e praticamente toda a minha família incluindo primos, tios, avós eram cristãos. Com o passar dos anos me tornei líder de jovens, lecionei para adolescentes, frequentava assiduamente os cultos, meu domingo era separado para o Senhor e fazia isso com maior prazer. 

  Aos 19 anos, comecei a trabalhar em um shopping da capital, sábado e domingo eram os melhores dias de venda, trabalhava muito e folgava apenas na segunda-feira, aos poucos fui me afastando dos trabalhos da igreja, não sobrava tempo, estava sempre cansado e o mais interessante é que antes disso pedia a Deus um trabalho onde pudesse ter uma renda melhor e quando Ele ouviu minhas orações eu simplesmente virei às costas para o trabalho Dele. Meu ânimo para as coisas de Deus havia mudado radicalmente, meu foco agora era dinheiro, estudo, namoro e se sobrasse tempo iria à igreja domingo a noite, na verdade era como se eu tivesse que bater um cartão de ponto, pesada essa analogia, porém era como estava sentindo naquele tempo. Cumprimentava os amigos, ouvia a mensagem, cantava louvores e hinos, no final do culto falava sobre futebol, relacionamentos, e outras coisas mais. Minha família estava feliz por me ver ali e tudo continuava bem.

  Era uma questão de tempo até eu afastar de vez, estava apenas adiando o que no fundo eu já sabia que iria acontecer, minha vida com Deus já não existia mais, as poucas vezes que orava eram para mim um fardo, só pegava a minha Bíblia quando estava indo ao culto e para piorar chegou um momento que nem aos cultos mais eu a levava. O interessante é que sempre tive uma ótima estrutura familiar, minha mãe e meu pai estavam sempre por perto, prontos a ajudar, aconselhar e nos guiar nos caminhos do Senhor. Por outro lado estava me sentindo um enganador, apesar de toda a aparência de bom menino, bom cristão, eu era na verdade um filho rebelde, orgulhoso, mentia com enorme frequência, não tinha domínio sobre a minha língua, brigava por motivos fúteis, não aceitava a autoridade dos meus pais, provocava discórdias, era incapaz de aceitar conselhos, porém, uma coisa eu ainda fazia, ia à igreja aos domingos, pois já fazia parte da rotina e eu precisava continuar sustentando a mascara.

  Um belo dia eu resolvi sair da Igreja Presbiteriana, minha então namorada e futura esposa era da Igreja Batista e não se adaptou muito bem com o tradicionalismo, juntei essa desculpa ao meu desânimo e ao meu descaso com as coisas de Deus e migrei para a Batista. Ela ficou muito feliz, tivemos momentos bons nessa época, eu fazia um tremendo esforço para ir aos cultos e conciliar meu trabalho com os trabalhos da Igreja. Com o passar do tempo, algumas coisas foram acontecendo dentro dessa Igreja Batista, eu não quero aqui no Blog relatar esses fatos, pois para mim isso já faz parte do passado, digo apenas que eram problemas relativos a doutrinas que não compartilhava e isso veio como um estopim para finalmente deixar os caminhos do Senhor. 

   Os anos passaram me mudei para o interior após passar em um concurso público da Policia Militar, me casei, e na cidade que morava ficou mais fácil desistir daquela vida que por muitos anos havia me dedicado a vida com Cristo. A Igreja mais próxima era muito longe, trabalhava muito e não tinha tempo, não havia pressão de família ou amigos, já não sentia mais falta das coisas de Deus, me afastei por completo, levando também a minha esposa. Confesso que apesar de me afastar da igreja eu ainda tinha comigo os princípios cristãos, que foram pela graça de Deus o que me desviou de coisas piores. Meu casamento mesmo tendo pequenos atritos caminhava muito bem, existia um amor muito grande que nos unia desde o inicio, ela me conhecia sem mascara, me olhava por completo, sabia de todos os meus defeitos e minhas qualidades e me aceitava como eu era, de forma sincera e verdadeira. Eu por outro lado conhecia muito bem a esposa que Deus havia me dado, o nosso amor um pelo outro era notório e caminhávamos de mãos dadas rumo a um futuro promissor.

  Em 2006 voltamos para Belo Horizonte, tínhamos uma enorme saudade da nossa cidade e estávamos felizes por retornar. Trabalho, estudos, planos, sonhos, a nossa vida estava ótima, porém Deus não estava nos nossos planos. O convite para voltar a igreja era constante, família, amigos e novamente me sentia pressionado. Mas o tempo longe havia endurecido meu coração e agora estava maduro o suficiente para questionar os convites, expor minha filosofia de vida e simplesmente não ir a lugar algum. Com o tempo eles iriam entender eu teria paz e nós seguiríamos felizes da forma que estávamos vivendo, eu achava.

  Certa vez meu primo Wesley foi até o apartamento que morava para conversarmos, entre vários assuntos ele tocou na questão da minha vida com Deus, como ela estava, se não me sentia incomodado por permanecer tantos anos afastado, se passava pela minha cabeça retornar um dia. Talvez ele nem se lembre dessa conversa, afinal foram muitas as vezes que ele, outros amigos e familiares abordaram esse assunto. Naquele dia eu disse que estava muito bem, meu casamento era ótimo, meu emprego era estável, traçávamos planos e tínhamos vários sonhos que relacionados por ordem de prioridade foram escritos em uma folha que ficava pregada na nossa geladeira, olhávamos orgulhosos para os bens que havíamos conquistado, por viagens realizadas e muitos sonhos que pouco a pouco eram riscados na folha dando lugar a outros que em breve se realizariam, havia colocado na cabeceira da minha cama um livro do escritor Augusto Cerbasi “Casais inteligentes enriquecem juntos”. Este livro era o meu guia para a felicidade, era nosso controle financeiro, nossos planos bem traçados, nossas metas e sonhos. Mostrava ao meu primo que não havia motivos para retomar minha antiga vida de cristão, cheguei a questioná-lo sobre os vários problemas que sabia que ele passava, ele sabiamente me disse que a vida com Cristo é cheia de problemas, mas que ele jamais abandonaria Cristo por causa dos problemas. Naquela época não entendia dessa maneira e cheguei a imaginar que isso não tinha lógica, ir a igreja, dedicar tempo, buscar constantemente a Deus e continuar com as mesmas dificuldades, para mim aquilo soava como uma insistência burra, mas respeitava. Estava convicto de que os meus caminhos me levariam a felicidade, não precisava ser crente, não precisava de religião alguma ditando regras na minha vida, afinal eu estava feliz, minha esposa estava feliz e tudo caminhava bem, eu achava. 

Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição.” 

(Prov. 1:32)“

  Fiquei resistente por longos 10 anos, minha Bíblia que por muito tempo havia sido uma amiga fiel, ficou esquecida e empoeirada ao lado de velhos livros, as palavras que antes me confortaram, durante 10 anos foram palavras ao vento, tinha olhos, mas não enxergava meus ouvidos já não ouviam mais, para mim estava tudo bem, seguia a passos largos rumo um caminho que me parecia direito, sem arreio, sem pressão, sem problemas, eu achava. 

“Há caminhos que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.” 

(Prov. 14:12)

  Com o passar dos anos minha esposa foi a primeira a me incomodar de verdade sobre voltarmos para a igreja, ela chegou ir a alguns cultos sem mim, eu ainda resistente não aceitava a ideia de voltar, mas algo estava diferente, alguma coisa pulsava mais forte em mim dizendo volta, dizendo você precisa de Deus, não é Ele quem precisa de você. Os convites agora já eram mais aceitáveis e comecei lentamente a visitar a Igreja, assistia ao culto saía rápido e ainda não conseguia enxergar um caminho de volta. 

“Não fostes vós que me escolheste a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”. 

(João 15:16) 

  Um belo dia eu e minha esposa recebemos um convite da minha querida prima Sandra para irmos num Encontro de Casais realizado pelo Grupo de Integração da Família Cristã, como disse antes estava mais aberto a convites e não pensei duas vezes, aceitei. Não imaginava como seria esse encontro, nem passava pela minha cabeça que seria um final de semana inteiro. Confesso que pensei em desistir, mas já era tarde, havia feito um compromisso e minha prima falava nesse tal encontro sempre que me via. Não tinha jeito, tinha que ir.

  No Encontro foi um final de semana inteiro chorando, percebi que Deus estava me chamando de volta, percebi que por anos fiquei cego e agora voltava a enxergar. Lamentei profundamente todos esses anos longe de Deus, lamentei profundamente tudo que havia feito e percebi que havia me enredado com filosofias e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo. (Col. 2:8). A partir daquele dia minha vida havia sido mudada por completo, me sentia como o filho pródigo retornando ao lar. Decidi voltar, olhei para Cristo e disse perdão meu Pai, perdão. 

  O mundo me deu flores quando lá cheguei todos os prazeres lá eu encontrei, não pude ver os laços e quantos embaraços me esperavam e me entreguei. Um dia eu acordei sem paz, meu coração jogado à própria sorte e à solidão. Lembrando do meu pai e dor no seu olhar quando eu parti, eu resolvi voltar e aos seus pés me humilhar dizendo: Senhor! Não mereço teu perdão! Como o teu servo mais humilde quero ser. Teu amor, só agora percebi: é a riqueza que, de todas, mais preciso ter! Com ternura me abraçou os meus erros esqueceu e em festa meu regresso anunciou quem no mundo pode dar sem recompensa esperar uma tão marcante prova de amor. (Música de Sérgio Lopes).

  Poucas pessoas sabem o que tenho vivido após esse dia, minha vida mudou radicalmente e posso afirmar que não tem sido dias fáceis, muito pelo contrário vieram lutas intensas, investidas pesadas contra a minha esposa, contra as nossas vidas e acima de tudo no nosso casamento, vivi alguns momentos que se pudesse apagaria da minha memória. Hoje consigo compreender pela dor o que Paulo disse em Efésios 6: que a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. 

  Tenho orado todos os dias pedindo a Deus que me de forças para continuar nessa batalha, para que Ele proteja minha esposa que tem sido atacada ferozmente nestes últimos meses. Não importa quanto tempo você permaneça longe, não importa quantos anos você fique cego, o que realmente importa é que existe Alguém que se importa contigo, existe Alguém que mesmo quando você desiste Dele, Ele não desistirá de você. 

“Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”. 

(João 6:37)

  O Pastor José Geraldo pelo qual guardo uma enorme gratidão e admiração esteve na minha casa alguns meses atrás e me disse a seguinte frase: filho só quando resolvemos ter uma vida séria com Deus é que os grandes problemas aparecem. Realmente hoje eu sei o que são grandes problemas, o que me consola é que o maior problema da minha vida já foi resolvido quando retornei para os braços do Pai, sei que por todos os momentos Ele me guardou e ainda que venham momentos piores, mesmo que venham mais batalhas, ainda que doenças nos alcancem, e mesmo que o inimigo me ataque por todos os lados, todavia, eu me alegrarei Nele. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados, perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos; porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal. (2Cor. 4: 8-11).

  Sou grato a todos que insistiram comigo e minha esposa para voltar à igreja, sou grato a minha família que me ensinou desde pequeno os caminhos que deveria seguir, sou grato ao meu Deus por permitir tudo que tenho passado e por me aceitar de novo após tudo que fiz nesses últimos anos. Que o Senhor possa me dar forças para permanecer firme na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus. (Atos. 14:22). 

 Por Mateus Bragança.