O amor jamais acaba
Publicado: 05/09/2011 em Amor
Tenho
um pensamento sobre o amor que não é muito popular nos nossos dias –
mesmo entre muitos cristãos. E aqui falo de amor entre homem e mulher
mesmo, amor romântico. Você poderia se perguntar o que um post sobre
esse assunto está fazendo num blog que se propõe a falar das coisas de
Deus. Eu responderia: tem tudo a ver. Pois acredito que sem compreender
plenamente o amor entre um homem e uma mulher é impossível compreender
em sua plenitude o amor entre o Cordeiro e sua Noiva.
Vivemos uma época em que o amor entre dois indivíduos de sexos
opostos virou algo descartável, superficial, egoísta. O amor que se
propaga em nossos dias pela mídia e pela cultura não tem nada a ver com o
bíblico. É carnal, impaciente, maldoso, inveja, se vangloria, se
orgulha. O amor da nossa civilização maltrata, procura seus interesses,
se ira facilmente, guarda rancor. Não quer sofrer, em nada crê, nada
espera, nada suporta. É um amor banal e fugaz. Às vezes acredito que se
ouvíssemos mais “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim, compreenderíamos
muito, mas muito mais sobre o amor idealizado por Deus para a
humanidade do que uma enormidade de corinhos que se cantam por aí nas
igrejas. O amor em que eu creio é o que o poeta canta:
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Prá te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida
Minha
primeira ideia polêmica é que o amor verdadeiro dura por toda a vida – é
eterno. “O amor jamais acaba”, diz 1 Coríntios 13.8. Quando ouço alguém
dizer “o amor acabou”, me perdoe, mas em minha opinião o que havia era
outro tipo de sentimento, fosse atração, carinho, uma grande amizade,
devoção, companheirismo, o que for… mas não amor. Pois o amor é aquele
que supera a esperança, que supera a fé, que permanece. Sei da exegese,
sei do ágape, sei do amor divino, mas também sei que o amor verdadeiro
foi criado por Deus para perdurar. Alguém com um mínimo de conhecimento
bíblico consegue acreditar que Deus criou o amor para acabar? Que Deus
criou algo tão entranhável, transformador, vital e extraordinário com
prazo de validade? Acreditar nisso seria ir contra a essência do próprio
Deus que é eterno e é amor.
Sei que serei apedrejado por pessoas que darão milhões de
justificativas para explicar por que um relacionamento “que era amor”
deixou de ser. Ouvi de tudo quando dava aula em seminário e conversava
sobre isso com meus alunos. “Ah, fulano mudou”; “ah, a coisa esfriou”;
“ah, o sexo não estava bom”; “ah, com o tempo comparei fulano com outros
e vi que ele não me amava”… acredite, ouvi de tudo. Mas o que vejo na
Bíblia e no cotidiano é que amor é uma vez na vida. É para sempre. “O
amor jamais acaba”. Por isso, também creio que só se ama de verdade uma
pessoa na vida. Pode-se até gostar de algumas, mas…AMAR? É algo que tem
nome e sobrenome, é coisa para apenas um dos indivíduos que cruzarão
nossa existência.
Vinícius de Morais que me perdoe, mas “que não seja imortal, posto
que é chama, mas que seja infinito enquanto dure” é pura filosofia
mundana, é uma grande balela. Não é bíblico. Novelas, filmes, músicas,
conversas de botequim e outros meios de proliferação cultural do mundo
tentam nos convencer que amor “é bom enquanto dura”. Pois eu creio que,
se é amor, dura até a morte. Às vezes, o sentimento é tão forte que vai
além dela. Já comentei aqui no APENAS de uma amiga querida que me disse
que até hoje, dez anos após a morte do noivo, aindo o ama. Creio que
isso sim é amor.
Já
ouvi também que em casais que ficam casados por muito tempo “o
sentimento muda”. Que “vira carinho”, “vira companheirismo”. Também não
acredito nisso. Conheço casais idosos que estão juntos há 40, 50, 60
anos e que se AMAM de verdade, como dois adolescentes. Que gostam de
caminhar de mãos dadas, que se mandam bilhetinhos apaixonados, que
morrem de saudades um do outro. Que, ao falecer um, o outro definha de
desgosto e parte pouco tempo depois. Não, não creio que amor que seja
amor vire companheirismo. Não acredito que maçãs virem pêras só porque o
tempo passou e as frutas passaram muito tempo convivendo no mesmo
cesto. Maçãs serão sempre maçãs.
Apocalipse 19.7 compara a união de Cristo com a Igreja como a relação
de amor entre um homem e uma mulher: “Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos
e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua
noiva já se aprontou”. Alguém consegue imaginar que esse casamento
chegará a um fim? Ou que o amor que Cristo sente pela Igreja vai acabar?
Ou se transformar em “amizade”? Ou em “companheirismo”? Por que Deus –
que não faz absolutamente nada à toa – escolheria justamente essa
metáfora para apresentar a união final e eterna entre Jesus e os seus
escolhidos? Se fosse algo que acabasse com o tempo, seria essa a imagem
adotada? Do amor entre um homem e sua noiva?
Me perdoem os pragmáticos, mas não, nada me convence que o amor verdadeiro não é aquele que dura eternamente.
Felizes
são os que constroem uma vida junto com aqueles que realmente amam.
Pois aí o divórcio será uma possibilidade impossível. E especulo que
Jesus permite o divórcio em apenas uma exceção, as práticas sexuais
ilícitas ["Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher,
exceto por imoralidade sexual e se casar com outra mulher, estará
cometendo adultério" (Mt 19.9)] por saber que a parte vilipendiada amava
de fato a que a vilipendiou a ponto de sofrer tanto que não conseguiria
continuar convivendo com a memória daquela atitude ilícita. E faço
questão de frisar aqui: creio firmemente que mesmo nessas situações a
primeira opção e o padrão ideal de Deus seja a reconciliação. “Eu odeio o
divórcio”, diz o Senhor, o Deus de Israel” (Ml 2.16).
Sou um romântico? Pode ser. Sou utópico? Talvez. Acredito no que
muitos consideram impossível? Acredito. Mas é o que vejo a partir da
Bíblia e pela observação das relações ao meu redor. E deixo, com toda
petulância que você me permite, um conselho ao jovem cristão (ou não)
que estiver lendo este post: ponha o teu sentimento à prova
antes
de se casar, de um modo muito simples: pense se você daria sua vida por
aquela outra pessoa. Pense se você se atiraria na frente da bala caso
alguém disparasse um tiro em direção à pessoa amada. Pois essa foi a
prova máxima que Deus deu de que amava sua noiva: “Porque Deus tanto
amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Jesus se atirou na
frente da bala para nos salvar, de braços abertos e peito exposto. Eu
descobri que amo a mulher que amo quando caiu a ficha de que eu morreria
no seu lugar. Por isso sei que a amo: eu daria minha vida pela dela.
Ou
seja: quer ter certeza de que ama alguém? Assegure-se de que você
ofereceria alegremente sua vida por ela. Se a resposta for “sim”, você a
ama de verdade. Pois esse é o padrão que Jesus nos legou: Ele amou
tanto e tão eternamente sua noiva que abdicou de si por ela. Se você
ficar na dúvida… não se case, pois pode não ser amor.
Tomara que seja. Pois aí você terá a alegria de viver algo
maravilhoso, transformador e magnífico, que “jamais se acaba”. Algo tão
grandioso e que curiosamente cabe em apenas quatro letras, apesar de
ser transbordante.
Termino este post com uma frase não-canônica de Nelson Rodrigues, que
não saiu da Bíblia, mas que se encaixa nela como uma luva: “Todo amor é
eterno. Se não é eterno, não era amor”.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Autor: Mauricio Zagari
Blog: http://apenas1.wordpress.com